domingo, 1 de novembro de 2015

40 anos de vida real ou apenas fantasia?

Por Lucas Rigaud

"Abra seus olhos. Olhe para os céus e veja..."

Veja que 40 anos se passaram, desde o lançamento de um dos maiores clássicos do Rock. Veja que, mesmo depois de 4 décadas, a música permanece fazendo um gigantesco sucesso, que pode durá até a eternidade. Veja também que essa matéria é totalmente dedicada a Bohemian Rhapsody que é, sem dúvida, uma das canções mais importantes de todos os tempos. 

Então... Nada mais realmente importa (qualquer um consegue ver), a não ser que você embarque com o Mestres Sonoros nessa homenagem ao prestigiado trabalho de Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor, John Deacon e Roy Thomas Baker que, além de pianista, foi produtor da canção.


HISTÓRIA

 O ano era 1975. O Queen havia se formado há 5 anos e acabara de encerrar a primeira grande turnê. Foi incumbido à banda a responsabilidade de gravar um álbum cujo som presente nele ecoasse até a eternidade; foi aí que começou a produção do clássico "Night At The Opera", que foi gravado em "apenas' 6 estúdios diferentes. Mas, esse texto não é sobre o icônico quarto álbum do Queen, e sim a respeito do single que, juntamente com a canção "Love Of My Life", tornou o disco um dos mais importantes da história.

 A letra... ou melhor... a história de Bohemian Rhapsody foi totalmente escrita por Freddie, que tratou sua obra prima como um bebê, segundo seus camaradas do Queen. Estes o ajudaram no desenvolvimento da "criança". Mercury compôs parte da música em sua casa, no oeste de Londres, sobre livros, pedaços de papel de telefone e folhas de cadernos, o que deixou os outros membros da banda bastante confusos.

 Até hoje, muito se especula sobre o significado da letra. Uns dizem que aborda questões referentes a arrependimentos, ou a um relacionamento passado de Freddie que é retratado de forma metafórica, ou até mesmo uma junção de ensinamentos e passagens de diferentes religiões, pois há várias palavras usadas pelo músico que estão presentes no Alcorão, como "Bismillah", que significa "Deus me livre", ou "Em nome de Allah". "Scaramouche", ou "Scaramucia", que é perguntado se fará um Fandango, é um tipo de palhaço que sempre se esquiva de alguma situação difícil que se encontra, colocando a vida de outra pessoa em jogo; é retratado como um covarde. "Belzebu" é um dos nomes dados ao "coisa ruim", tanto que há quem acredite que a música fala sobre um pobre rapaz que vendeu sua alma para o diabo.

  O uso de palavras presentes no Alcorão talvez possa se dever ao fato de a família do músico ser profundamente envolvida no Zoroastrismo. Mercury foi criado em Zanzibar (Tanzânia), mas sua famíliafoi forçada a sair pela turbulência do governo em 1964 e se mudaram para a Inglaterra. Alguns dos versos poderiam ser sobre deixar sua terra natal para trás. De acordo com o próprio Freddie, as letras eram nada mais do que “Random rimas nonsense” (rimas aleatórias sem sentido). Porém, a verdade deve ser a seguinte: cabe a qualquer um que escuta a canção interpretar a loucura poética de Mercury.

 Bohemian Rhapsody é dividida em exatamente 6 partes: A introdução, a balada, o solo de guitarra, a ópera, o hard rock e a conclusão. Detalharemos todas essas seis partes do single a seguir: 

INTRODUÇÃO - A música possui 49 segundos de uma introdução que é, desde o primeiro som emitido, épica. A musicalidade de abertura foi feita de forma de coral a capella em si bemol maior, com os 4 membros cantando ao mesmo tempo (na verdade, durante as gravações tanto da música quanto do vídeo, um membro da banda de cada vez que gravava sua voz e só no resultado final que as vozes ficariam juntas) o início da canção, que questiona sobre o que é real e imaginário. Aos 14 segundos, surge o piano de Freddie Mercury para acompanhar as vozes de Brian, Roger e John, além da sua. O narrador, Mercury, se apresenta como um pobre rapaz que não precisa de simpatia. Ao final da introdução, surge o baixo de John Deacon e novamente o piano de Freddie, agora em si bemol maior.

BALADA - A famosa balada começa a partir dos 50 segundos de música, ainda com o tão famoso som de piano em si bemol maior. Em seguida, Mercury entra com o seu vocal solo sobre um homem que se lamenta para mãe por ter matado um homem com um tiro na cabeça, profundamente amargurado e arrependido, desejando, às vezes, jamais ter nascido, além de estar com medo de morrer devido ao seu crime. O vocal, apesar de triste, possui uma harmonia suave, apesar de um baixo de Deacon estar em mi bemol maior, o que dá um tom de desespero que acompanha a trágica história do narrador. Roger Taylor entra na bateria aos 1:19, apresentando um ritmo 1-1-2, semelhante o de "We Will Rock You", mas no estilo balada. Aos 2:36, começa o solo de guitarra de Brian May. 

SOLO DE GUITARRA - A guitarra de May toma conta da música dos 2:36 até os 3:03. Quando Freddie termina de cantar a balada em "sometimes wish I'd neve been born at all", o som aumenta e Brian dá o seu show com o solo que o próprio havia composto. De acordo com o produtor Roy Thomas Baker, o solo de Brian foi feito em apenas uma faixa; é bastante comum gravar solos de guitarra em várias faixas.


ÓPERA - Depois do épico solo, que serve de ponte entre a balada e a ópera, chega o então momento mais grandioso da música. A ópera, feita de uma maneira como nunca havia sido feita antes na história do rock, começa primeiramente com o acompanhamento do piano de Freddie, que muda completamente o ritmo e a harmonia da música, transformando algo melancólico e, talvez, romântico, em um som da qual o ouvinte se diverte quando escuta. Talvez a ópera represente a chegada do narrador ao inferno. Referências líricas nesta passagem incluem Scaramouche, o fandango, Galileo Galilei, o Figaro, e Bismillah, enquanto facções rivais lutam pela alma do narrador. Usando a tecnologia de 24 faixas disponível na época, a seção "ópera" demorou cerca de três semanas para ser finalizada.


HARD ROCK - "Beelzebub has a devil put aside for me... for me... for meeeeeeeeeeee!" BOOM! Chega o momento que todos os amantes do rock pesado estavam esperando e também um dos mais inesperados para quem escuta a música pela primeira vez, por, assim como a ópera, mudar a tonalidade da música de uma maneira tão brilhante que é capaz de deixar os amantes dessa arte com os olhos cheios d'água. Aos 4:15, Freddie começa a cantar palavras raivosas e tristes destinadas a alguém, pois o cantor deixa bastante claro "você" nos versos. A guitarra toca três passagens ascendentes, e Mercury novamente executa uma parte em si bemol maior, enquanto a música se aproxima do final.


CONCLUSÃO - Logo depois de Brian tocar algumas notas, a música volta ao ritmo da balada. Quando 

uma melodia é tocada por um amplificador criado por John Deacon, carinhosamente apelidado de "Deacy Amp", pouco depois Freddie finaliza seu vocal com "Nothing really matters, any one can see...". Logo depois, juntamente com o término do piano e a voz, Mercury canta calmamente, "Anyway the wind blows", seguido pela batida de um gongo tocado por Taylor, que marca a conclusão épica da música.

 Bohemian Rhapsody chamou bastante atenção, principalmente do jornal The New York Times, devido sua letra fatalista. Freddie, porém, se recusou a explicar a composição, alegando apenas se tratar de antigos relacionamentos. Até hoje, a banda se recusa a explicar a verdadeira história por trás de Bohemian Rhapsody. 


 Segundo o próprio Freddie: "É uma daquelas músicas que possui um sentimento de fantasia. Eu acho que as pessoas deveriam apenas ouví-la, pensar sobre ela, e então refletir sobre o que ela tenta lhes dizer... "Bohemian Rhapsody" não surgiu do nada. Eu pesquisei um pouco, apesar de ser uma brincadeira que zomba da ópera. Por que não?"


 Freddie Mercury era uma pessoa muito complexa e, algumas vezes, bastante confusa de entender. Ora, era uma pessoa completamente espontânea e extrovertida, mas, de vez em quando, tornava-se reservado. Talvez, de fato, caiba aos fãs da banda Queen criar sua própria interpretação por trás dessa obra imortal. Não há muitos elementos que diferenciam a canção de uma obra literária do período do Romantismo, ou Surrealismo, ou de vários estilos artísticos-literários combinados em um único elemento. A grandiosidade de Bohemian Rhapsody se deve, então, a esse último fato. 





CURIOSIDADES: 

- A música foi considerada longa demais. Devido aos exatos 6 minutos de canção, ultrapassando o limite de 5:55 dos singles, produtores e executivos musicais sugeriram que Bohemian Rhapsody jamais se tornaria um hit. Foi introduzida a rádio pelo comediante Kenny Everett. Num primeiro momento, ele pensou que era estranhamente longa, mas teve uma mudança de ideia. Ele complementa: "Ela poderia ser de meia hora de duração, e seria a número um por séculos!". Os estúdios da EMI no Reino Unido tentou cortar pedaços da canção. Como Roger Taylor diz: "Disseram que ela era demasiado longa e não iria funcionar. Podemos pensar, "Bem que poderíamos cortar ela, mas ela não faria qualquer sentido", não faz muito sentido agora e teria ainda menos sentido então; você iria perder todos os humores diferentes da canção. Por isso, dissemos que não.". 


- Bohemian Rhapsody ficou nove semanas consecutivas em primeiro lugar no Reino Unido e é a terceira canção da história a ficar mais tempo na primeira posição no Império, atrás somente de "Cara Mia", de David Whitfield, e "Rose Marie", de Slim Whitman. 


- Quando foi lançada em single, em 31 de outubro de 1975, tinha como lado B a música "I'm in Love With My Car". Fez um estrondoso sucesso comercial, vendendo mais de um milhão de cópias até janeiro de 1976.


- O vídeo, lançado juntamente com o single (que pode ser conferido abaixo) foi considerado inovador na época, devido ao trabalho de fotografia e iluminação, os efeitos visuais e a montagem de cenas, aperfeiçoando ainda mais a onda de vídeo clipes que começou a tomar força no final dos anos 70. 





- O piano em que Freddie Mercury toca a tão famosa canção é o mesmo usado por ninguém menos que Paul McCartney para gravar outro grande clássico da música: Hey Jude. 

- De acordo com a revista Rolling Stone, a música está na posição 163 das 500 Melhores Músicas de Todos os Tempos, lista criada pela própria revista, e seu solo de guitarra ocupa o vigésimo lugar nos Melhores Solos de Todos os Tempos.

- A ópera demorou mais de 70 horas para ser gravada.

Após a primeira execução decisiva na rádio, a EMI percebeu que tinha um hit em suas mãos. Foi o momento em que eles concordaram em liberar o single completo.



 São apenas 4 décadas de uma música que ecoará por toda a eternidade, tanto devido a sua sonoridade incrivelmente perfeita e inovadora, quanto ao eterno desafio de interpretar a verdade por trás dessa belíssima obra sonora dos nossos mestres da Ópera-Rock. 



  

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