terça-feira, 29 de novembro de 2016

George Harrison - A homem, a lenda, o espírito, o Beatle

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Por: Lucas Rigaud

Há 15 anos, George Harrison, o eterno guitarrista, cantor e compositor que deu alma à música da banda britânica The Beatles, muito debilitado por conta do câncer que batalhava desde os anos 90, estava rodeado de muito amor e carinho pela sua esposa, Olivia, seu filho, Dhani, e alguns amigos íntimos, até murmurar suas sábias e últimas palavras: “Amai-vos uns aos outros”.

 Conformado que não teria muito tempo de vida, George partiu para fora do mundo material de maneira tranquila e feliz, longe das câmeras e da chateação da mídia. Em uma das suas últimas entrevistas, foi praticamente pego de surpresa durante uma corrida de Fórmula 1, uma das maiores paixões do músico; apesar de ter primeiramente recusado falar com a repórter que o abordou, Harrison mudou de ideia, mostrando ao mundo pela última vez sua simpatia e humildade. O eterno Beatle não acreditava que o corpo era mais importante que alma, o que, de fato, não é; jamais quis que a mídia registrasse seu corpo enquanto estava se deteriorando, por conta da doença. De acordo com um amigo: “George Harrison não queria a sua fotografia num caixão como epitáfio”.

 George Harrison, na humilde opinião dos Mestres Sonoros, foi e sempre vai ser o verdadeiro mestre do quarteto de Liverpool. Sua simplicidade, humildade e genialidade eram, infelizmente, pouco reconhecidas durante os Beatles, quando a atenção era voltada para os "líderes" da banda, John e Paul. Porém, em carreira solo, Harrison foi o primeiro do Fab Four a obter sucesso, recebendo altos elogios e, finalmente, sendo reconhecido como o gênio que sempre foi.

George Harold Harrison nasceu em Liverpool, Inglaterra, no dia 24 de fevereiro de 1942, porém a data "oficial" de seu aniversário é comemorada em 25 do mesmo mês. Foi o último de quatro filhos do motorista de ônibus Harold Hargreaves Harrison e da funcionária de lojas Louise. George nasceu de uma família católica e descendente de irlandeses.

 A primeira escola que cursara foi a Escola Primária de Dovedale, próximo a Penny Lane, onde curiosamente também fora local de estudo de John Lennon. Passando em seus exames finais, Harrison conseguiu uma vaga no Liverpool Institute For Boys, onde ficou de 1954 a 1959. George disse que, quando tinha 12 ou 13 anos, ele teve uma "epifania" — andando de bicicleta pela vizinhança, ele ouviu "Heartbreak Hotel", de Elvis Presley, tocando em uma casa próxima, e ficou chocado. Ainda que, à época, ele tivesse tido um bom desempenho escolar, ele já havia perdido o interesse pelos estudos. Com 14 anos, ele se sentava ao fundo da sala de aula, tentando desenhar guitarras nos livros escolares: "Eu estava completamente vidrado em guitarras. Eu ouvi que um garoto na escola tinha uma guitarra de três libras e dez xelins, era só um pequeno buraco acústico. Eu pedi três libras e dez xelins à minha mãe; isso era bastante dinheiro pra nós." Harrison comprou um violão Dutch Egmond. Enquanto estava no Liverpool Institute, Harrison formou um grupo de skiffle com seu irmão Peter e um amigo chamado Arthur Kelly. Foi nessa escola que ele conheceu Paul McCartney, que era um ano mais velho. McCartney, posteriormente, se tornaria membro da The Quarrymen, banda de John Lennon, à qual Harrison se juntaria, em 1958.

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 Ao perder interesse pelo skiffle, John Lennon começou a tocar mais rock'n roll e, como já fora mencionado, George entrou na banda em 1958 quando Rod Davis, que tocava banjo, saiu do grupo. Posteriormente, Stuart Sutcliffe (chamado também de Stu) também entrou para a banda como baixista. No verão do mesmo ano, eles gravaram em um disco de acetato de 78-rpm as canções "That'll Be the Day"(composição de Buddy Holly) e "In Spite of All the Danger" (composição de McCartney e Harrison).

   Em 1960, a banda trocou de nome 5 vezes. Stu sugeriu o nome The Beetles (os besouros) em homenagem a banda The Crickets (os grilos), de Buddy Holly. Após uma tournê com Johnny Gentle na Escócia, eles mudaram definitivamente o nome para The Beatles.

 Nos Beatles, a primeira música cantada, mas não escrita, por Harrison foi "Do You Want To Know A Secret", que está no primeiro álbum lançado pela banda chamado Please Please Me. A primeira canção escrita pelo Beatle encontra-se no álbum With The Beatles e se chama "Don't Bother Me". Essa canção fora escrita quando George estava doente de cama em quarto de hotel. A música se tornou curiosa por ser completamente diferente das escritas pela dupla Lennon-McCartney, com um vocabulário mais ousado e frases como: "Vá embora, deixe-me sozinho, não me pertube." Porém, George adquiriu mais sucesso interpretando a canção "Roll Over Beethoven" de Chuck Barry, presente no mesmo álbum.

 No começo da histórica banda, Harrison era visto como apenas um garoto pelos outros integrantes, por o mais jovem entre eles. No auge da Beatlemania, George ganhou o apelido "Quiet Beatle" (Beatle calmo/Beatle quieto) devido à sua timidez e tendência de falar pouco em entrevistas.

  Um dos marcos mais importantes de sua carreira aconteceu durante a turnê nos E.U.A em 1965, quando David Crosby, integrante da banda The Birds, introduziu George à cultura indiana através dos trabalhos do então músico Ravi Shankar. Shankar ensinou ao Beatle tocar cítara, um instrumento de cordas indiano com som mágico e magnífico. George ficou completamente apaixonado pelo som indiano e se tornou um dos principais responsáveis pela introdução da música indiana nos anos 60. Sua primeira introdução de cítara em uma música pop ocorreu na canção "Norwegian Wood" do álbum Rubber Soul.

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 Outro importante acontecimento na vida de George ocorreu durante as filmagens de Help! em 1965, nas Bahamas. Na época, ele começou a se interessar pela religião hindu ao ler um livro sobre reencarnação. Em 1966, ele e sua mulher Pattie Boyd foram à Índia, onde ele conheceu vários gurus, locais sagrados e estudou o sitar. De volta a Inglaterra, George conheceu Maharishi Mahesh Yogi e começou a desenvolver a meditação transcendental. Influenciados por George Harrison, os Beatles foram à Índia fazer meditação espiritual em 1968. Em 1969, produziu o single "Hare Krishna Mantra", interpretado por devotos do templo londrino de Radha-Krishna. No mesmo ano, ele e John Lennon conheceram Bhaktivedanta Swami Prabhupada, fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON). Pouco depois, Harrison abraçaria a tradição Hare Krishna, em particular o canto de mantra usado como meditação privada e chamado japa-yoga, tecnicamente similar ao rosário na tradição católica.

  Em 1966, a partir do álbum Revolver, George começou a demonstrar talento tão incrível quanto ao da dupla Lennon-McCartney, compondo canções de alta qualidade e conseguindo lançar 3 músicas suas no álbum. Em 1968, sua música "While My Guitar Gently Weeps" se tornou a composição de maior sucesso do Beatle, esta está incluída no White Album - The Beatles.

 "Something" foi sua primeira canção a ser lado A de um compacto dos Beatles, a canção também é consideradas uma das mais belas da história e, depois de "Yesterday", é a canção mais regravada dos Beatles. Muitos consideram essa como a melhor composição de Harrison.

 Antes do fim da banda, George já havia lançado dois álbuns solo: Wonderwall Music, de 1968, e Electronic Sound, de 1969. Após a separação da banda, George Harrison foi o Beatle de carreira solo mais vitoriosa. Seu primeiro álbum pós-beatles foi um grande sucesso de público e critica. O All Things Must Pass, de 1970, é considerado por muitos como o melhor trabalho solo de um Beatle e um dos melhores discos da história. Sucesso como "My Sweet Lord", "Isn't It a Pity" e "What is Life" fizeram o álbum atingir o primeiro posto das paradas de sucesso britânicas e norte-americana.

 O maior fato ocorrido em sua carreira foi em 1971: pela primeira vez na história do rock, George Harrison organizou um show humanitário: O The Concert For Bangladesh. O show aconteceu em 1 de agosto no Madison Square Garden, de Nova York, reuniu cerca de 40.000 pessoas e contou com a participação de Eric Clapton, Ravi Shankar, Bob Dylan, Ringo Starr, Leon Russell, Billy Preston e o grupo Badfinger. Os outros ex-Beatles também foram chamados mas só Ringo Starr compareceu. Paul alegou ser muito cedo para reunir a banda novamente e John não compareceu porque o convite não se estendeu a sua esposa, Yoko Ono. O The Concert For Bangladesh foi feito com a finalidade de arrecadar fundos para refugiados de Bangladesh. Em 2005 o álbum foi relançado em CD e em DVD e as arrecadações foram doadas à Unicef.



De forma adicional ao seu próprio trabalho, George Harrison escreveu duas canções para Ringo Starr, "It Don't Come Easy" (creditada apenas a Ringo Starr, lançada como single) e "Photograph" (parceria entre Harrison/ Starr), incluída no álbum Ringo, de 1973. Colaborou com o álbum Imagine (1971), de John Lennon, assim como nas canções "You're Breakin' My Heart" de Harry Nilsson, "Day After Day" de Badfinger, "That's The Way God Planned It" de Billy Preston e "Basketball Jones" de Cheech & Chong.

  No seu disco Living in the Material World, de 1973, está presente a canção "Give me Love (Give me Peace on Earth)", segunda a atingir o primeiro lugar das paradas norte-americanas depois de "My Sweet Lord".

 Em 1980, após o assassinato de John Lennon, George escreveu a canção "All Those Years" em sua homenagem e chamou Paul McCartney, Linda McCartney e Ringo Starr para participarem da gravação. Em 1987, George lançou o álbum Cloud 9, que foi produzido por Jeff Lynne (Electric Light Orchestra). Depois de 5 anos, foi uma volta com reconhecimento de público e de crítica.

George convidou mais uma vez alguns amigos para participar do álbum: Eric Clapton, Ringo Starr e Elton John, além do próprio Jeff Lynne. A canção "I got my mind set on you", escrita por Rudy Clark na década de 1960, atingiu o primeiro lugar nos Estados Unidos e segundo na Inglaterra. A canção "When We Was Fab" em referência aos Beatles conseguiu sucesso mais modesto. No video clip desta canção George aparerece junto com Ringo Starr e Paul McCartney, este fantasiado de leão marinho em homenagem às fantasias usadas no filme Magical Mystery Tour. O álbum alcançou o posto de número 8 nas listas de sucessos dos Estados Unidos e o número 10 nas britânicas, dando a Harrison seu melhor resultado desde Living in the Material World.

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 Na década de 90, George foi diagnosticado com câncer de pulmão e enfrentou diversas cirurgias para elimina-lo. Porém, em 2001 o câncer voltou em metástase. Apesar de tantos tratamentos, a doença já estava no seu estado terminal e o Beatle sabia que não lhe restava muito tempo de vida.
 No dia 29 de novembro de 2001, nosso querido George nos deixou e partiu para um lugar melhor ao lado de sua Divindades. Seu corpo foi cremado e suas cinzas jogadas no rio Ganges (ou no rio Yamuna) na Índia.

 Exatamente um ano após sua morte, Olívia Harrison, sua mulher, e Eric Clapton, seu amigo, organizaram o Concert for George, no Royal Albert Hall, em Londres. O concerto contou com a presença do filho de George, Dhani, além de grandes amigos como Paul McCartney, Ringo Starr, Eric Clapton, Billy Preston, Ravi Shankar, Tom Petty, Jeff Lynne, Jim Capaldi, Jools Holland, Albert Lee, Sam Brown, Gary Brooker, Joe Brown, Brian Johnson, Ray Cooper, integrantes do Monty Python e Tom Hanks.

 George Harrison ocupa o 11º lugar na lista dos 100 maiores guitarristas da história segunda a revista Rolling Stone e sem dúvida é um músico que mudou completamente o solo estilo rock'n roll e que jamais será esquecido.


 A simplicidade, humildade, o silêncio por fora, mas por dentro uma alegria inesgotável, as letras, a voz, os solos, tudo isso fez desse homem um dos maiores gênios musicais que o mundo já viu. Agora, George pode tocar seu inesquecível solo de guitarra ao lado do seu “Doce Senhor” por toda a eternidade, enquanto gentilmente choramos de saudade.

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