quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Por Trás da Capa - Parte II


Por: Lucas Rigaud



 Começamos essa semana com uma das maiores perdas do mundo da música dos últimos anos. Não esperávamos que o nosso "Homem das Estrelas" fosse retornar tão cedo para o seu Planeta natal, pegando todo mundo de surpresa. O que importa, porém, é o legado deixado por David Robert Jones, conhecido pela humanidade como David Bowie, tanto na música quanto no cinema e na moda. 

 Na história "Por Trás da Capa" de hoje, falarei um pouco de um dos meus álbuns favoritos do Camaleão do Pop, "Hunky Dory". 

 Lançado em 17 de dezembro de 1971, "Hunky Dory", o quarto álbum de estúdio de David Bowie, é um dos maiores marcos da música progressiva e psicodélica da década de 70; e também um dos trabalhos mais importantes do músico, que, desde o seu segundo álbum, "Space Oddity", de 1969, estava aperfeiçoando cada mais seus variados estilos. Hunky Dory é também importante por ter dado o ponta-pé inicial para a criação de Ziggy Stardust, que revolucionaria para sempre a música pop, por ter juntado pela primeira vez a formação original da banda que gravaria juntamente com Bowie o clássico disco: o baixista Trevor Bolder, o guitarrista Mick Ronson, pianista Rick Wakeman e o baterista Mick Woodmansey. 

 Produzido por Ken Scott, que também produziu "Ziggy Stardust", "Hunky Dory" foi o primeiro lançamento de Bowie pela gravadora RCA, que lançaria todos os seus trabalhos na década de 70. O disco contém 11 faixas, todas escritas e compostas por Bowie, exceto a primeira do lado B: 

Lado A: "Changes", "Oh! You Pretty Things", "Eight Line Poem", "Life On Mars?", "Kooks" e "Quicksand".

Lado B: "Fill Your Heart", "Andy Warhol", "Song For Bob Dylan", "Queen Bitch" e "The Bewlay Brothers".

 O álbum começa em grande estilo com a clássica faixa "Changes", que é uma marca registrada na reinvenção artística promovida por Bowie, ou o desejo de mudar, inovar, se diferenciar. A música foi de fato escrita em um período de mudanças para o artista, que aguardava a chegada do seu primeiro filho e sentia a necessidade de superar todos os obstáculos da crítica que impediram sucessos anteriores, como o de Space Oddity, que tinha de tudo para ter o total reconhecimento na época em que fora lançado. A música também conta com Bowie no saxofone, que foi o primeiro instrumento musical que o Camaleão aprendeu a tocar. 



 Em seguida, vem a faixa "Oh! You Pretty Things", que foi primeiramente lançada seis meses antes de Hunky Dory, cantada pelo músico Peter Noone, contando com Bowie no piano. A música tornou-se um grande sucesso no Reno Unido e , por isso, o nosso Camaleão do Pop decidiu regravá-la e dar acordes mais elevados.



 Outra música do álbum que chama bastante atenção, talvez um dos mais influentes clássicos de David Bowie, é "Life On Mars?". Afinal, que amante da música nunca escutou essa enigmática canção ou assistiu o icônico vídeo que mostra um Bowie altamente maquiado, trajando um terno azul turquesa e cantando sozinho diante de um fundo totalmente branco? A subjetividade da música se dá por uma garota que vai ao cinema logo após discutir com os pais e assiste a um filme que termina com a frase "Existe Vida em Marte?". Até mesmo a história da música é interessante: sua composição teve início em 1967, após um convite recebido por Bowie para escrever uma versão da música francesa "Comme d'habitude". Mas, a versão do Camaleão (que se chamaria Even a Fool Learns To Love) nunca foi lançada, pois os direitos da gravação foram vendidos para Paul Ankar, que escreveu a música como nome de "My Way", ficando mundialmente famoso em 1969 na voz de Frank Sinatra. "Life On Mars?" se tornou uma paródia da música cantada por Sinatra, usando os mesmos acordes de piano. Foi também lançado como single, em 1973, ficando em terceiro lugar nas paradas britânicas. 



"Kooks" também é uma faixa famosa do clássico álbum. Reza a lenda que o Camaleão estava escutando Neil Young na sua sala, quando seu primeiro filho Duncan Jones, veio ao mundo. A combinação dos fatos teria inspirado Bowie a escrever a canção "Kooks", nome que mais tarde seria adotado por uma banda indie britânica.



 Quando lançado, o álbum vendeu bem no começo, mas sem muito sucesso. Na verdade, foi só depois do lançamento de "Ziggy Stardust", em 1972, que "Hunky Dory" tornou-se um verdadeiro sucesso, alcançando o número 3 nos charts britânicos.

Em 1998, a revista Q elegeram "Hunky Dory" como 43° melhor álbum de todos os tempos, enquanto em 2000 a mesma revista o colocou no número 16 na sua lista dos 100 melhores álbuns britânicos da história. Em 2003, o álbum foi classificado como 107° na lista da Rolling Stone dos 500 melhores álbuns de todos os tempos. No mesmo ano, a VH1 o colocou em 47° e a lista Virgin All Time Top 1000 Albums o colocou em 16°. Em 2004, foi classificado como 80° na lista dos 100 melhores álbuns dos anos 70 da Pitchfork Media. Em 2006, a revista Time o escolheu como um dos 100 melhores álbuns de todos os tempos.

 O próprio David Bowie declarou em 1999 que "Hunky Dory" foi o álbum mais importante de sua carreira: "Hunky Dory me deu um engrandecimento fabuloso. Acho que me proveu, pela primeira vez na vida, um verdadeiro público - quero dizer, pessoas realmente vindo até mim e dizendo, 'Bom álbum, boas músicas'. Isso não tinha acontecido comigo antes. Era assim, 'Ah, estou captando, estou entendendo, estou começando a comunicar o que quero fazer. Agora: o que é que quero fazer?' Havia sempre um azar duplo lá."

 Genial do primeiro ao último minuto, assim como o seu realizador principal, Hunky Dory é, assim como o álbum seguinte, o grande clássico "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", uma marca registrada do nosso eterno Camaleão do Pop que sempre deve ser escutado e venerado por todos aqueles que já foram inspirados pela arte que David Bowie presenteou o Planeta Terra. 

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