segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A História Por Trás da Canção - "Ouro de Tolo" (Raul Seixas)

Por: Lucas Rigaud



 "Eu é que não me sento no trono de um apartamento, com a boca escancarada e cheia de dentes, esperando a morte chegar."

 Verso intrigante, não? A loucura real da nossa eterna "metamorfose ambulante", Raul Seixas, para mim, nunca fez tanto sentido a partir de tal frase, presente no clássico "Ouro de Tolo", que questiona o que devemos fazer da vida, antes que esta termine e morrermos acomodados. De fato, temos coisas grande para conquistar e não podemos ficar aí parados; e uma dessas coisas talvez seja saber a história e o significado dessa obra-prima do mestre Raul.

 Lançada como single em 1973, juntamente com a canção "A Hora do Trem Passar", e também no álbum "Krig-ha, Bandolo!", primeiro disco solo de Raul Seixas, lançado no mesmo ano, "Ouro de Tolo" foi a principal responsável pelo estrondoso sucesso do Maluco Beleza, no início da década de 70.

 Em 1971, John Lennon compôs "Imagine", cujo alguns versos dizem: "Imagine que não houvesses países, não é difícil de imaginar. Nenhum motivo para matar ou morrer. E nem religião também.". Tanto Lennon quanto Raul viveram para formular um tipo de sociedade utópica - no caso do nosso Raulzito, como muitos de vocês sabem, uma Sociedade Alternativa - cujo principal objetivo era romper com os padrões políticos e sociais impostos naquela época, sendo assim, um movimento de "contracultura".

 Em 1973, Raul Seixas, juntamente com Paulo Coelho, decidiram "atacar" o cenário social-político brasileiro daquela década, que se encontrava sob o domínio da Ditadura Militar. "Ouro de Tolo" surgiu da ideia de criticar a boa vida da classe média devido ao apoio à ditadura militar, mostrando a euforia de um cidadão por causa da sua estabilidade social e econômica através de um "ouro de tolo".

 Mas, afinal, o que significa "Ouro de Tolo"? A expressão que vem da Idade Média era um nome dado às promessas de falsos alquimistas, que diziam transformar chumbo em ouro, uma vez que a linguagem verdadeira da Alquimia era metafórica ou simbólica, referendo-se, então, à transformação do "chumbo", ou seja, o estado pesado do ser humano em algo reluzente como o ouro.

 Passando essa ideia para a década de 70, em plenos "Anos de Chumbo", Raul Seixas reduz a zero os benefícios da classe média que apoiou o "milagre econômico" da ditadura militar, indicando que o verdadeiro ouro estava no despertar da consciência de cada indivíduo, visando a construção da utópica Sociedade Alternativa, e não no discurso ditatorial, onde a tal "sombra sonora de um Disco Voador" poderia ser uma alusão ao surgimento dessa tal sociedade tão sonhada por Raul aqui no Brasil, e por John Lennon nos EUA. 

 É incrível como Raul e Paulo Coelho captaram um conceito abordado na Era das Trevas para encaixar perfeitamente às "trevas" que o Brasil enfrentava, posições políticas a parte. A música teve uma interessante jogada de marketing, quando Coelho propôs que Raul convocasse a mídia para registrar a aparição do músico na Avenida Rio Branco, no dia 7 de junho de 1973, onde cantaria "Ouro de Tolo" para todo o Rio de Janeiro ouvir. Tal acontecimento foi um sucesso, sendo até mesmo mostrado em horário nobre, no Jornal Nacional. O resultado foi o estrondoso sucesso da canção, principalmente entre os jovens que aspiravam atacar o velho conformismo. A partir da aparição de Raul no jornal, vendas e mais vendas do compacto de "Ouro de Tolo" e "A Hora do Trem Passar" foram vendidos, o que influenciou positivamente no marketing do álbum "Krig-ha, Bandolo!", lançado em 21 de julho de 1973. 

 Claro que a polêmica da canção atingiu Raul Seixas em cheio. Em 1974, o músico foi preso, fichado e torturado pela Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS). Mas, o sonho de ver uma Sociedade Alternativa se erguer a partir da concepção do "Ouro de Tolo" jamais havia acabado. 

 Listada pela revista Rolling Stone Brasil como a cação de número 16 das 100 mais importantes da música brasileira, "Ouro de Tolo" foi o primeiro grande sucesso do nosso Maluco Beleza e, sem dúvida, um de seus mais primorosos trabalhos que nos ensinou somos humanos, ridículos, limitados e que só usamos 10% de nossa cabeça animal, mas também que temos coisas grandes para conquistar e não podemos ficar parados. 






6 comentários:

  1. Belo artigo! Só uma observação: Ouro de tolo é música e letra de Raul Seixas. Não tem Paulo Coelho na parada. O mesmo ocorre com Metamorfose Ambulante. No disco em questão, Paulo Coelho é parceiro de Raul em 5 músicas: As minas do rei Salomão, A hora do trem passar, Al Capone, Rockixe e Cachorro Urubu.

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  2. Raulzito, como muitos artistas barsileiros, ganhou dinheiro com idéias,mas não foi exemplo de vida,não é exemplo pra nenhum jovem, que por sinal, era o seu principal público alvo,curto sim algumas canções de raul,mas não ideologicamente falando,ele poderia usar a frase curta minha música mas não faça oque eu faço,seria mais verdadeiro e sincero...

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    1. Ranço de um típico bunda mole manipulado por políticos e pastores.

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  3. Algumas informações úteis, mas o texto ta carregado de paranóia ideológicas ou seja de alquimia ourotolista pra confundir quem realmente gosta da Boa música daí a importância da sociedade alternativa.

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